Passadas as chuvas, os agricultores agora contabilizam os prejuízos e aguardam o repasse do Seguro Safra
Tivesse o inverno sido “bom” — nem oito nem 80 — os agricultores cearenses estariam neste exato período iniciando a grande colheita do milho e finalizando a de feijão. As mandiocas já iriam para as casas de farinha, e os mercados livres estariam sortidos, e a mesa do agricultor estaria, possivelmente, farta. Mas o prejuízo causado pelas enchentes neste ano dividiu os agricultores em quem teve ou não teve sorte, a depender da quantidade de água em suas terras. No Vale do Jaguaribe e na zona norte, regiões mais atingidas, quem ficou no prejuízo faz o que pode para não passar fome e aguarda ansiosamente o Seguro Safra, que ainda não tem data certa para ser pago. Esse é só mais um dilema dos produtores da safra perdida. Segundo a Ematerce, a estimativa do Ceará, que até maio era de colher 1.048.235 toneladas de grãos, reduziu para 980.833 toneladas, um valor 30,4% menor do que o esperado no início do ano, de antes das enxurradas.
Segundo a assessoria de comunicação da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA), ainda não há previsão para o pagamento do Seguro Safra. O motivo é que a Ematerce tem que finalizar os laudos das perdas deste ano e enviar o documento para Brasília. A previsão é que os laudos sejam concluídos até o fim do mês de julho.
Quando o agricultor Antônio de Fátima esmagou umas sementes de milho no dente e viu que não se “esfarelou” teve a certeza de que não estava bom. É quando o milho “gruda” no dente sem esfarelar, e vem a conclusão de que o plantio está perdido e a esperança, mesmo durante as cheias, tem um fim. O que pode ser aproveitado, uma menor porcentagem, serve de alento que o trabalho não foi em vão - há sempre a exceção na falta ou na fartura. Seu Antônio perdeu aproximadamente 55% da produção de milho às margens da CE-377, no bairro Boa Fé, em Limoeiro do Norte.
Quem já vive da agricultura de sequeiro e tem prejuízo no que deveria ser o melhor período do ano só lamenta. “Aí ficou pior”. A saída, nesses casos, é vender algumas galinhas, alguma criação de corte, fazer um serviço de servente de pedreiro aqui e acolá, trabalhar na colheita e na venda dos agricultores que não foram tão castigados pelas águas e, por fim, aguardar que o Governo Federal dê o aval para o repasse das seis parcelas do seguro safra. Os agricultores cearenses não estão com as mãos na cabeça porque com elas para cima ninguém trabalha. Este é outro capítulo das enchentes no Ceará.
O solo cearense é arenoso, e por isso as perdas agrícolas com as chuvas são mais significantes. Seu Antônio é um dos 1.752 agricultores de Limoeiro cadastrados para receber o Seguro Safra, um recurso financeiro que tem a participação dos governos municipal, estadual e federal, além da contribuição do próprio beneficiado, que deve ter pago, até janeiro último, o boleto bancário que o coloca automaticamente no grupo de assegurados. Mas daí a ver a cor do dinheiro é preciso, além das contribuições dos órgãos, que seja averiguado o nível de perdas a que chegou cada município. O relatório da Secretaria Municipal de Agricultura, enviado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, apontou prejuízo médio de 60% das lavouras de sequeiro por causa das chuvas. O Governo do Estado, via Ematerce, realiza o laudo por amostragem das perdas. A sede regional em Limoeiro avalia aleatoriamente (conforme solicita o Governo Federal) 40 plantios para laudo por amostragem, para refutar, ou não, a informação municipal. Mas, até ontem, apenas 20 laudos tinham sido efetivados. Segundo o gerente local da Ematerce, Oliveira de Almeida, seriam necessários dez agentes para fazer o trabalho, mas o escritório só tem três agentes.
Esse é um dos principais passos para a entrega do seguro, que aumentou para R$ 600,00, sendo quatro parcelas de R$ 150,00. Mas no meio disso vários produtores tiveram 100% de perda, assim como José Amorim, de Quixeré. A espiga de milho não chegou à metade do tamanho que deveria. Agora a esperança é conseguir trabalho temporário nas fazendas fruticultoras da Chapada do Apodi, onde a agricultura é irrigada – e também registrou prejuízo, ainda que menor e de forma mais sustentável do que na realidade dos agricultores de sequeiro.
RELATÓRIO AGRÍCOLA Colheita será 9,5% menor que 2008
As 980.833 toneladas previstas, atualmente, para serem colhidas já é 9,5% menor do que a safra de grãos colhida em 2008. O quadro é pior quanto mais amplos são os levantamentos de perdas. Os dados constam do Relatório da Situação da Safra Agrícola, produzido pela Ematerce com levantamentos de até 15 de junho.
Quando somadas as perdas de grãos com as de mandioca (que ainda deve ser colhida mais do que em 2008) a safra de sequeiro apresenta um déficit, comparado às previsões de janeiro, de 23,5%. As avaliações de perdas não são conclusivas, pois apenas a cultura do feijão está com a safra definida. As demais, milho, mamona, arroz, algodão, sorgo e amendoim terão suas safras definidas até julho, enquanto que a mandioca só dará um resultado definitivo a partir de agosto.
A cultura do feijão foi a que mais fortemente sofreu os efeitos do excesso de chuvas, atingindo até este período 43,8% de perdas. O milho tem perdas registradas, até o momento, em 27,9% da produção esperada inicialmente. Esses dois números são importantes porque feijão e milho têm as maiores participações relativas na produção cearense: 42,63% e 52,81%, respectivamente.
Também houve uma queda no rendimento da colheita por hectare. A previsão atual é de 721 quilogramas por hectare, contra 809kg colhidos em 2008. Mais uma vez o feijão apresenta o menor rendimento, com 32% a menos de produtividade por hectare colhido em 2008. Nos próximos dias, outro relatório da safra agrícola deverá ser divulgado, mas a divulgação mais aguardada é a da liberação do seguro safra. O Ceará tem 161 municípios credenciados no Seguro Safra.
Mais informações: Ematerce (85) 3217.7872 Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) (85) 3101.8158 Melquíades Júnior Colaborador
Texto: Diário do Nordeste
Foto: Melquíades Júnior
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Tivesse o inverno sido “bom” — nem oito nem 80 — os agricultores cearenses estariam neste exato período iniciando a grande colheita do milho e finalizando a de feijão. As mandiocas já iriam para as casas de farinha, e os mercados livres estariam sortidos, e a mesa do agricultor estaria, possivelmente, farta. Mas o prejuízo causado pelas enchentes neste ano dividiu os agricultores em quem teve ou não teve sorte, a depender da quantidade de água em suas terras. No Vale do Jaguaribe e na zona norte, regiões mais atingidas, quem ficou no prejuízo faz o que pode para não passar fome e aguarda ansiosamente o Seguro Safra, que ainda não tem data certa para ser pago. Esse é só mais um dilema dos produtores da safra perdida. Segundo a Ematerce, a estimativa do Ceará, que até maio era de colher 1.048.235 toneladas de grãos, reduziu para 980.833 toneladas, um valor 30,4% menor do que o esperado no início do ano, de antes das enxurradas.
Segundo a assessoria de comunicação da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA), ainda não há previsão para o pagamento do Seguro Safra. O motivo é que a Ematerce tem que finalizar os laudos das perdas deste ano e enviar o documento para Brasília. A previsão é que os laudos sejam concluídos até o fim do mês de julho.
Quando o agricultor Antônio de Fátima esmagou umas sementes de milho no dente e viu que não se “esfarelou” teve a certeza de que não estava bom. É quando o milho “gruda” no dente sem esfarelar, e vem a conclusão de que o plantio está perdido e a esperança, mesmo durante as cheias, tem um fim. O que pode ser aproveitado, uma menor porcentagem, serve de alento que o trabalho não foi em vão - há sempre a exceção na falta ou na fartura. Seu Antônio perdeu aproximadamente 55% da produção de milho às margens da CE-377, no bairro Boa Fé, em Limoeiro do Norte.
Quem já vive da agricultura de sequeiro e tem prejuízo no que deveria ser o melhor período do ano só lamenta. “Aí ficou pior”. A saída, nesses casos, é vender algumas galinhas, alguma criação de corte, fazer um serviço de servente de pedreiro aqui e acolá, trabalhar na colheita e na venda dos agricultores que não foram tão castigados pelas águas e, por fim, aguardar que o Governo Federal dê o aval para o repasse das seis parcelas do seguro safra. Os agricultores cearenses não estão com as mãos na cabeça porque com elas para cima ninguém trabalha. Este é outro capítulo das enchentes no Ceará.
O solo cearense é arenoso, e por isso as perdas agrícolas com as chuvas são mais significantes. Seu Antônio é um dos 1.752 agricultores de Limoeiro cadastrados para receber o Seguro Safra, um recurso financeiro que tem a participação dos governos municipal, estadual e federal, além da contribuição do próprio beneficiado, que deve ter pago, até janeiro último, o boleto bancário que o coloca automaticamente no grupo de assegurados. Mas daí a ver a cor do dinheiro é preciso, além das contribuições dos órgãos, que seja averiguado o nível de perdas a que chegou cada município. O relatório da Secretaria Municipal de Agricultura, enviado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, apontou prejuízo médio de 60% das lavouras de sequeiro por causa das chuvas. O Governo do Estado, via Ematerce, realiza o laudo por amostragem das perdas. A sede regional em Limoeiro avalia aleatoriamente (conforme solicita o Governo Federal) 40 plantios para laudo por amostragem, para refutar, ou não, a informação municipal. Mas, até ontem, apenas 20 laudos tinham sido efetivados. Segundo o gerente local da Ematerce, Oliveira de Almeida, seriam necessários dez agentes para fazer o trabalho, mas o escritório só tem três agentes.
Esse é um dos principais passos para a entrega do seguro, que aumentou para R$ 600,00, sendo quatro parcelas de R$ 150,00. Mas no meio disso vários produtores tiveram 100% de perda, assim como José Amorim, de Quixeré. A espiga de milho não chegou à metade do tamanho que deveria. Agora a esperança é conseguir trabalho temporário nas fazendas fruticultoras da Chapada do Apodi, onde a agricultura é irrigada – e também registrou prejuízo, ainda que menor e de forma mais sustentável do que na realidade dos agricultores de sequeiro.
RELATÓRIO AGRÍCOLA Colheita será 9,5% menor que 2008
As 980.833 toneladas previstas, atualmente, para serem colhidas já é 9,5% menor do que a safra de grãos colhida em 2008. O quadro é pior quanto mais amplos são os levantamentos de perdas. Os dados constam do Relatório da Situação da Safra Agrícola, produzido pela Ematerce com levantamentos de até 15 de junho.
Quando somadas as perdas de grãos com as de mandioca (que ainda deve ser colhida mais do que em 2008) a safra de sequeiro apresenta um déficit, comparado às previsões de janeiro, de 23,5%. As avaliações de perdas não são conclusivas, pois apenas a cultura do feijão está com a safra definida. As demais, milho, mamona, arroz, algodão, sorgo e amendoim terão suas safras definidas até julho, enquanto que a mandioca só dará um resultado definitivo a partir de agosto.
A cultura do feijão foi a que mais fortemente sofreu os efeitos do excesso de chuvas, atingindo até este período 43,8% de perdas. O milho tem perdas registradas, até o momento, em 27,9% da produção esperada inicialmente. Esses dois números são importantes porque feijão e milho têm as maiores participações relativas na produção cearense: 42,63% e 52,81%, respectivamente.
Também houve uma queda no rendimento da colheita por hectare. A previsão atual é de 721 quilogramas por hectare, contra 809kg colhidos em 2008. Mais uma vez o feijão apresenta o menor rendimento, com 32% a menos de produtividade por hectare colhido em 2008. Nos próximos dias, outro relatório da safra agrícola deverá ser divulgado, mas a divulgação mais aguardada é a da liberação do seguro safra. O Ceará tem 161 municípios credenciados no Seguro Safra.
Mais informações: Ematerce (85) 3217.7872 Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) (85) 3101.8158 Melquíades Júnior Colaborador
Texto: Diário do Nordeste
Foto: Melquíades Júnior
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