Com o acumulado de água considerado recorde em 15 anos, o Ceará precisa de mais açudes para a próxima estação
Os reservatórios do Ceará entram na reta final do acúmulo recorde de água, e passados quatro meses do início da quadra chuvosa, o Estado desce da casa dos 95% da capacidade de reserva, um recorde em 15 anos de monitoramento da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh). A previsão é de que o Castanhão continue com quatro de suas comportas abertas por mais duas semanas. O Ceará está garantido de água por cerca de três anos de seca, mas, e os anos de cheia?
Mais 11 açudes serão construídos até o ano que vem, porque se em quatro meses de chuvas o acumulado subiu de 68% para 95%, o risco de colapso no abastecimento — em caso de inverno igualmente rigoroso no próximo ano — é maior. Na primeira quinzena de fevereiro, quando teve início a estação de chuvas, os 130 açudes monitorados pela Cogerh registravam 68,3% de acúmulo da capacidade. O Açude Trapiá III, em Coreaú, foi o primeiro a sangrar. Com 5,5 milhões de metros cúbicos, é um dos menores monitorados no Estado. Em 2009 houve sangria de pelo menos 117 açudes, dos quais 108 sangravam até ontem.
A Cogerh monitora 130 açudes no Ceará, mas existe um número maior de pequenos reservatórios, muitos em propriedades particulares, que não sofrem monitoramento, nem mesmo a fiscalização necessária desde a sua construção. Estes foram, em parte, responsáveis por casos de inundação em regiões habitadas próximas dos rios. Foi o caso de Morada Nova, onde 21 pequenos açudes arrombaram, aumentando a cheia na calha do Rio Banabuiú, provocando a cheia repentina no lugar. Em Iracema, também foi o arrombamento de um pequeno açude que levou água para parte da cidade, que em poucas horas atingiu 1,80 metros de inundação.
O Açude Castanhão, o maior do Estado, continua com quatro de suas comportas abertas, liberando ao todo 400 metros cúbicos de água por segundo (na cota 104,76 metros). Bem menos do que recebe do Rio Salgado, a montante – cerca de 150 metros cúbicos/segundo. O Castanhão atingiu seu recorde em 2009 na cota 105,65, e o percentual de 97,8% — em 2008 o seu volume durante as chuvas chegou a 84,5%. A cheia do açude fez o Dnocs liberar até mil metros cúbicos (ou um milhão de litros) por segundo para a calha do Rio Jaguaribe, que já estava muito cheio pelas mesmas chuvas e inundando parte das cidades de Limoeiro, Jaguaruana e Itaiçaba, pelos seus afluentes.
Conforme o engenheiro do Dnocs, Ulisses de Sousa, coordenador do Complexo Castanhão, as quatro comportas devem continuar abertas até que se reduza à cota 104 metros acima do nível do mar, o que deve acontecer nos próximos 15 dias. Ainda assim, o açude estará com mais de 90% da capacidade. Porém, a previsão do Dnocs é de que, mesmo fechado, o açude perca bilhões de litros de água por evaporação e desça para a cota 101 metros até o mês de janeiro de 2010.
Segundo Francisco Teixeira, diretor da Cogerh, o volume acumulado dá uma maior segurança ao Estado para os próximos anos que venham a ser de seca. O problema é se vier tanta água em 2010 quanto ocorreu neste ano. Em quatro meses, o aumento de 68% para 95% de água acumulada (de um total de 17,8 bilhões de metros cúbicos), somada às cheias dos maiores rios, já inundando as cidades, deixou preocupado o Governo do Estado. Foram 117 sangrando, dos 130 monitorados. Para se ter uma melhor idéia do aumento, basta saber que em 2006 houve sangria de 30 açudes monitorados. O período chuvoso de 2004 encerrou com reserva de 85,6%; 2005 com 71%; 2006 com 70,5%; 2007 com 62%; e 2008 com 85,8%.
Mas outros 11 açudes — três pelo Dnocs e oito pelo Governo do Estado — serão construídos até 2010, representando mais 1,57 bilhão de metros cúbicos de capacidade, aumentando em 8,8% o percentual de armazenamento. O mais aguardado é o Açude Figueiredo, localizado na região jaguaribana, com capacidade de 520 milhões de metros cúbicos.
Mais informações:
Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) - Fortaleza - (88) 3218.7020
Melquíades Júnior
Colaborador
Texto: Diário do Nordeste
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