quarta-feira, 13 de maio de 2009

De olho na cheia do Banabuiú

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Á água voltou a assombrar a população de Russas. Mais 146 famílias deixaram suas casas ontem. O rio Banabuiú é o maior responsável pelo avanço da água na cidade

Joaquim Antônio da Cruz, 42, atravessa a água que bate no meio das coxas, carregando a filha nos ombros e duas sacolas no braço. São quase 16 horas. De manhã cedo, quando saiu para trabalhar, fez o mesmo caminho com a rua ainda seca. Às 11 horas a sogra ligou avisando que a água já estava na soleira da porta. A cheia no rio Banabuiú chegou ao riacho Araibu, que passa atrás da comunidade Pitombeira I, onde Joaquim mora.


A mudança está no caminhão disponibilizado pela Prefeitura de Russas. Vai levando geladeira, fogão, colchão e duas mudas de roupa. Pela terceira vez nesse inverno, a casa da família foi invadida pela água.

“De primeiro, alteamos os móveis e continuamos lá. Agora não dá mais pra ficar”, conta Joaquim. Ele segue com a filha e a esposa para a casa de um conhecido sem saber quando volta para a sua. “Tá difícil esse ano. Estamos cansados dessa apreensão”, desabafa.

Dona Maria Hema Mourão, 58, também não aguenta mais. Há 17 dias, não dorme uma noite inteira.”Passo a madrugada todinha levantando para olhar a água no quintal. É um desassossego!”, conta, apontando as lâmpadas que mandou pendurar do lado de fora da casa para vigiar a altura da água à noite.

Às 4 horas ela liga o rádio para acompanhar as notícias. “Tão mandando todo mundo sair da beira da água porque vai vir mais cheia aí!”. Os avisos finalmente surtiram efeito.

No fim da tarde, Hema preparava sua saída. O medo da água venceu o medo dos ladrões. “Se não bastasse toda a tragédia, ainda tem gente que arromba as casas fechadas, mas não temos mais solução”. Desde cedo, o marido, Enoque Mourão, 58, ia e vinha da fazenda de um amigo, levando sacos cheios de galinhas na bicicleta. O casal recebeu guarida do amigo fazendeiro e os vizinhos ajudaram a levantar os móveis com cavaletes e tábuas.

O avanço do rio Banabuiú, que corta Russas, e do rio Jaguaribe, que margeia o município, aumentou o número de famílias desalojadas no município. Ontem mais 146 deixaram suas casas. A maioria saiu das comunidades de Pitombeira I e II, Sítio Canto e Parelhas. Agora são 694 famílias desalojadas. Até ontem a Prefeitura mantinha seis abrigos em espaços alugados. As escolas do município estavam sendo poupadas para evitar a interrupção das aulas, mas com a nova cheia já estão de sobreaviso.

Mesmo com a água do rio Banabuiú subindo a olhos vistos, muita gente preferiu continuar em casa. “Vou esperar até amanhã. Tem os bichos aqui. Não tenho o que fazer com eles”, diz Valzenir de Oliveira, 34. Na porta de sua casa, a água chega a meio metro. Maria do Socorro Silva, 52, também decidiu ficar. “Não tenho para onde ir. Seja o que Deus quiser”.


E-Mais

Da BR-116, a visão dos rios Banabuiú e Jaguaribe impressiona. Nas duas pontes, curiosos param para admirar o mundo d’água. A estrada está em péssimas condições. Vez ou outra, caminhões carregando mudanças cruzam o caminho. É gente fugindo das enchentes.

Em Russas, a produção de cerâmica é uma das principais atividades econômicas e fonte de renda de muitas famílias. Quase todas as olarias estão fechadas por causa das enchentes.

A Defesa Civil de Russas conta com seis canoas para acessar mais de 20 comunidades na zona rural.

Na BR 116, o nível do rio Banabuiú subiu 1,46 metro de segunda para terça-feira. De acordo com Francisco Almeida Chaves, gerente da Companhia de Gestão dos Recursos Hidrícos (Cogerh) em Limoeiro do Norte, o volume de água é resultado das chuvas em Morada Nova e Ibicuitinga na madrugada de segunda. Ulisses de Souza, coordenador geral do Complexo do Castanhão, diz que o Banabuiú é o vilão desse inverno na região.

Texto: O Povo Online
Foto: Fco Fontenelle
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