sexta-feira, 15 de maio de 2009

Desafio agora é enfrentar as doenças

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Um mundo de água e quase nenhuma para beber. As enchentes invadiram a estação de tratamento da Cagece em Itaiçaba, contaminaram a água dos rios e estouraram fossas em toda a cidade

"É um paradoxo. Por causa da enchente, não tem água. O abastecimento está cortado e a água dos rios está contaminada", explica o médico William Muriel Torres, de Itaiçaba. A peleja dos refugiados nesse inverno é encontrar água boa para beber, tomar banho e preparar a refeição. "Depois que meu menino passou três dias vomitando, fomos até o hospital. O médico deu soro e pediu que eu comprasse água mineral para ele beber", conta Neide Lima.

Com o dinheiro da pensão da mãe, ela agora se permite o luxo de comprar água engarrafada para o filho. A que chega no abrigo de carro pipa é turva. “Também está cheio de gente tomando banho no rio, não pode!”, diz o médico William.

A água suja, se ingerida, causa diarreia e febre, já em contato com a pele faz multiplicar o número de pessoas com micoses na população de Itaiçaba. “Tem muita, especialmente frieira. O povo vive com os pés na água suja”, conta a agente de saúde Maria Helena Silva Alves, 47.

Ontem, ela e mais seis agentes distribuíam hipoclorito para limpar a água de beber. Duas gotas em um litro são suficientes. Em tempo de inverno, nos abrigos e na zona rural, a água da chuva escorre pela bica do telhado e é aparada em tambores para matar a sede da família.

“O problema é que a telha e o tambor às vezes estão sujos. Estamos encontrando muita gente com diarreia e febre”, diz Maria Helena. Na Cidade Nova, parte alta de Itaiçaba, dona Inês Gomes, 48, recebe o hipoclorito pela primeira vez nesse ano.

Perto de sua casa, a sobrinha bebê se recupera de uma crise de garganta acompanhada de diarreia. A irmã mandou comprar remédios por conta própria. Outro erro em época de chuvas. Muitas doenças mais graves começam com sintomas comuns. Até a leptospirose, que pode matar, surge como uma simples gripe.

“As crianças estão em casa esperando o corpo sarar sozinho, não pode. É preciso estar alerta”, recomenda William. Nos abrigos, nas casas e barracas improvisadas na beira da estrada, sempre tem uma criança doente. Sempre.

Cleidiane da Silva, 17, padeceu junto com a filha de quatro anos. As duas tiveram febre, dor de garganta e gripe forte. Só depois de três dias, a mãe decidiu ir ao médico. “Sair daqui doente, pegando carona, desanima”, explica.

Em Itaiçaba, o hospital está funcionando no distrito de Alto Brito, para onde se transferiu também a Prefeitura. “As três equipes do Programa Saúde da Família (PSF) foram deslocadas para os locais de maior concentração. Ficam aqui (no Alto Brito), no Tabuleiro e no Serrote”, diz William.

As famílias isoladas na zona rural são as que mais preocupam. “Alguns médicos temem atravessar 16 quilômetros no Jaguaribe para chegar até as famílias ilhadas”, conta o coordenador da Defesa Civil do município Marcos Vinicios Vieira.

Enquanto as águas não baixam, os problemas de saúde mais comuns são as infecções respiratórias, gripes fortes, dores de garganta com febre alta, as infecções intestinais causadas pelas águas contaminadas e as micoses. Quando a água baixar, outras doenças devem surgir. Doenças ainda mais graves. “A que mais me assusta é a dengue. A água traz lixo, garrafas, baldes, tudo é depósito para a larva do mosquito nascer. Sem contar as águas empoçadas que demoram mais a secar”, preocupa-se a agente de saúde Gildenise Mendes de Deus.

Paulo Mesquita, nefrologista do Hospital da Divina Providência, no município de Russas, também teme um surto de dengue e o aumento dos casos de leptospirose, doença provocada pela urina do rato. “Há duas semanas chegou um rapaz aqui com leptospirose. Ele chegou a ser transferido para Fortaleza, mas faleceu”, conta Paulo. O jovem trabalhava numa plantação de arroz, área permanentemente alagada. “Ele demorou muito a procurar o hospital, o que não é raro em casos de leptospirose”, diz o médico.


EMAIS

- O Hospital da Divina Providência de Russas possui 70 leitos e já trabalha no limite, mesmo antes de sentir os reflexos da enchente na área da saúde, como informa o diretor da unidade, Antônio Rodrigues de Souza. Ontem, 100% dos leitos estavam ocupados.

- Duas características ajudam a diferenciar a leptospirose de uma gripe forte: dores musculares e icterícia (pele e olhos amarelados). "O problema é que na fase da icterícia, o fígado já foi comprometido", diz Paulo Mesquita, nefrologista.

- Depois da cheia de terça-feira, a água começou a baixar na cidade de Russas. A quadra esportiva ao lado do rio Banabuiú estava coberta até quarta-feira à tarde. Ontem de manhã, estava seca.

- Em Limoeiro do Norte, o nível do Jaguaribe diminuía aos poucos no fim da tarde de terça-feira.

- Em Itaiçaba, essa mesma água ainda está chegando. Ontem de manhã, a nova cheia ultrapassara a primeira em dois centímetros, de acordo com o coordenador da Defesa Civil, Marcos Vinicios Vieira. Marcos previa que hoje a água voltasse a baixar. 1.850 famílias estão fora de casa no município.

Texto: O Povo Online
Foto: Fco Fontenelle
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